Surf na Ilha dos Lobos interfere na preservação de mamíferos marinhos

Instituto Sea Shepherd faz apelo aos surfistas, para deixarem de pegar ondas perto da unidade de conservação. Ilha virou ?point? há cerca de 6 meses.

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Por Agencia Estado
Atualização:

O aumento da freqüência de surfistas na Ilha dos Lobos, no Rio Grande do Sul, nos últimos 6 meses, já interfere na vida dos mamíferos e aves marinhas, locais e migratórios. O alerta é do Instituto Sea Shepherd, que faz um apelo ao bom senso dos surfistas, tradicionais defensores da qualidade das águas do mar e da vida marinha. ?Temos registrado um fluxo quase ininterrupto de barcos e jet-skis, levando os surfistas para lá, onde as ondas são consideradas as maiores e mais pesadas da costa brasileira?, diz Alexandre Castro, do Sea Shepherd Brasil. ?Mas a prática do surf, assim como qualquer atividade de exploração ou passeios de barcos e até programas de educação ambiental, sem autorização, são proibidos num raio de 500 metros em torno da ilha. Será mesmo, que em um País com 8 mil km de costa e centenas de locais fantásticos para o surf, é necessário invadir uma reserva ecológica de menos de 2 hectares?? A Ilha dos Lobos é uma reserva ecológica federal, categoria de unidade de conservação de proteção integral, cuja finalidade é a conservação da fauna. Criada em 1983, ela tem apenas 1,69 hectare de rochas sem vegetação e fica a 2 quilômetros de Torres, no norte do litoral gaúcho. É a única unidade de conservação do litoral brasileiro, que recebe os lobos marinhos e sub-antárticos, de onde vem seu nome. Também serve de área de descanso e alimentação de leões marinhos, golfinhos, baleias francas e jubartes, tartarugas e aves. Boa parte deles usa a ilha para uma pausa, em meio às longas jornadas migratórias. Devido à falta de plano de manejo e a proximidade da costa, no entanto, a reserva sofre pressões sistemáticas, de turistas sem orientação, de coletores de mariscos e da pesca indiscriminada, que abastece sobretudo os restaurantes e hotéis de Torres e vizinhanças. O movimento de embarcações é grande, os limites em torno da reserva não são respeitados e há risco de contaminação por petróleo e outros poluentes químicos. O recente aumento da freqüência dos surfistas fragiliza ainda mais o ambiente, sobretudo pelo uso abusivo dos jet-skis, que produzem muito barulho e fumaça. Desde março do ano passado, o Instituto Sea Shepherd realiza um projeto de conservação na Ilha dos Lobos, em parceria com a Universidade do Vale dos Rio dos Sinos (Unisinos). O projeto deve durar até março de 2004 e inclui estudos das espécies de pinípedes (leões e lobos marinhos), além do levantamento da biodiversidade relacionada à ilha, com objetivo de fornecer subsídios para elaboração do plano de manejo da reserva. Eles já realizaram alguns censos e verificaram que a freqüência de leões e lobos marinhos aumenta entre junho e novembro, com um pico de ocupação em setembro. ?A fiscalização é fácil, porque todas as embarcações, que se dirigem à ilha ou voltam de lá, passam obrigatoriamente pela barra do Rio Mampituba e o controle pode ser feito com um binóculo ou telescópio, como estamos fazendo para observar os animais. Mas não há fiscalização e a reserva ainda está em situação precária, legalmente, porque a categoria na qual ela se enquadra será extinta no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e ainda não há definição quanto à nova categoria?, afirma Castro. Segundo ele, a falta de controle oferece risco, inclusive, para os surfistas. E conta o caso, ocorrido no início de julho último, de um surfista que resolveu ir até a ilha, remando sobre a prancha e acabou arrastado por uma corrente para alto-mar, sendo resgatado apenas no dia seguinte, por pescadores. ?O risco para os próprios surfistas é desconsiderado, nos sites de surf que vem destacando a Ilha dos Lobos como o novo paraíso?, diz o ambientalista. ?Verdadeiros surfistas, assim como verdadeiros ambientalistas, são responsáveis em suas ações e abrem mão da promoção pessoal, em virtude da ações justas. E surfar na Ilha dos Lobos não é justo?.

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