Técnica ataca proteína do corpo humano para derrotar o HIV

Ainda em testes, processo contorna a resistência do HIV ao adotar, como alvo, uma função da célula humana

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Por Carlos Orsi
Atualização:

O vírus causador da Aids, o HIV, atua invadindo células do sistema imunológico humano e apropriando-se dos recursos dessas células para se reproduzir. A maioria das técnicas usadas para combater a doença se concentra em atacar o vírus, mas o HIV sofre mutações muito rapidamente, ganhando resistência aos tratamentos. Agora, pesquisadores dos EUA apresentam uma abordagem diferente: visar não o vírus, mas uma proteína humana que age como "inocente útil" e permite a entrada no HIV nas células. Os primeiros testes, realizados em culturas de células e camundongos em laboratório, mostraram que a neutralização da proteína ITK (interleucina 2, quinase induzida de célula T), reduz drasticamente a capacidade do HIV de se reproduzir no organismo humano. "A ITK é uma proteína importante para ativar os leucócitos T, uma célula muito importante para o sistema imunológico normal, e um dos alvos principais da infecção por HIV", explica um dos autores do artigo que descreve a nova técnica, Andrew Henderson, da Universidade Estadual da Pensilvânia. "A ITK tem um papel muito importante na resposta imunológica normal e já foi implicada na asma".  Outro responsável pelo estudo, Pamela Schwartzberg, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) do governo dos EUA, acrescenta que a ITK é essencial na ativação de diversas funções dos leucócitos T que são necessárias para a replicação do HIV. "Incluindo a expressão dos genes do HIV e sua entrada na célula", explica. De acordo com o artigo que descreve o estudo, divulgado nesta segunda-feira, 28, pelo periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), camundongos submetidos ao tratamento para a inibição da ITK tiveram uma reação imunológica mais lenta à infecção por outros vírus que não o HIV, mas ainda foram capazes de responder a eles. O trabalho afirma, ainda, que inibir a proteína reduziu a disseminação do HIV em culturas de células. As equipes do NIH e da Universidade da Pensilvânia já pediram uma patente para o processo  de controle do HIV a partir da inibição da ITK, mas não há previsão para testes em humanos num futuro próximo. "Nosso laboratório está tentando entender os mecanismos pelos quais a ITK influencia a replicação do HIV", diz Henderson. "O laboratório de (Pamela) Schwartzberg está realizando estudos em culturas de células e em animais para entender melhor o papel da ITK na imunidade. A esperança é que nosso trabalho interesse pessoas mais qualificadas para levá-lo ao próximo nível". "Neste momento, ainda precisamos avaliar melhor, em culturas de células, o quanto o bloqueio do ITK é bom para inibir a infecção do HIV", completa Pamela.

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