Telescópio detecta explosão mais distante da Terra

Descoberto por observatório no Chile, operado por Brasil e EUA, pulso de raios gama levou 13 bilhões de anos para chegar à Terra

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Por Agencia Estado
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Treze bilhões de anos atrás, quando o Universo ainda era pouco mais do que um recém-nascido, a explosão de uma estrela supermassiva enviou um pulso de raios gama através do espaço. Treze bilhões de anos depois - ou, mais precisamente, no domingo retrasado -, esse pulso chegou à Terra. O sinal foi detectado pelo satélite orbital Swift, da Nasa, que enviou o alerta para astrônomos ao redor do planeta. A descoberta, anunciada nesta segunda-feira, contou com a participação decisiva de pesquisadores brasileiros no Observatório Austral para a Pesquisa em Astronomia (SOAR), inaugurado no ano passado, no Chile. Segundo os pesquisadores, trata-se da explosão mais distante e mais antiga já identificada no Universo. O telescópio, operado em parceria pelo Brasil e três instituições americanas, foi o primeiro a focalizar a explosão no espectro infravermelho, permitindo que sua distância fosse calculada. ?Vários grupos fizeram observações, mas nós temos o mérito de ter feito a descoberta?, disse o astrônomo Eduardo S. Cypriano, residente do SOAR. Satélite O satélite Swift, da Nasa, é projetado especificamente para detectar pulsos de raios gama, mas não tem a instrumentação necessária para analisar as explosões em detalhes. Para isso, envia um sinal para pesquisadores ao redor do mundo, que correm para registrar o fenômeno. No dia 4 de setembro, três horas após a detecção inicial, Cypriano foi contactado por uma equipe da Universidade da Carolina do Norte (uma das parceiras do SOAR) pedindo que ele apontasse o telescópio para as coordenadas enviadas pelo satélite. O conjunto de análises - feitas ainda com o telescópio Gemini Sul, que também tem participação brasileira - mostraria que a explosão ocorreu a 13 bilhões de anos-luz da Terra. O que equivale, em termos técnicos, a um redshift (desvio para o vermelho) de 6,29. Segundo Cypriano, há pouquíssimos objetos conhecidos mais distantes do que isso. As galáxias mais distantes possuem redshift de 6,57 e o quasar mais distante (o núcleo ativo de uma galáxia contendo um buraco negro super massivo), de 6,42. Um redshift 5 equivale a 12 bilhões de anos. E a idade estimada do Universo é de 13,7 bilhões de anos. Alta energia As explosões de raio gama são os eventos mais estrondosos do Universo. Elas ocorrem com freqüência diária no espaço, mas os cientistas ainda não compreendem exatamente a sua origem. A hipótese mais provável é que os pulsos sejam decorrentes de estrelas de massa muito grande, que explodem quando chegam ao fim de suas vidas e transformam-se em buracos negros. A importância da última descoberta é que ela permite aos cientistas estudar como ocorriam a formação e a morte de estrelas ainda nos primórdios do Universo. As pistas estão na luz emitida pela explosão e nas modificações que ela sofreu durante sua viagem pelo espaço. Para ser visível depois de tanto tempo, a explosão deve ter sido monstruosa. O astrônomo italiano Guido Chincarini, que também observou o evento, estima que a energia liberada pode ter sido ?300 vezes maior do que o Sol vai produzir durante toda sua vida de 10 milhões de anos?. Os raios gama têm o menor comprimento de onda do espectro eletromagnético e são a forma mais energética de radiação. O pulso detectado pelo Swift foi excepcionalmente longo (mais de 3 minutos) e seu afterglow, ou brilho posterior, ficou visível por 3 dias. Foi esse brilho que o SOAR e outros observatórios captaram. Nota do Editor: Este texto foi alterado em 13/09/05 para adequação do tamanho de título e do número de parágrafos.

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