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Nasa divulga a primeira imagem do universo captada pelo telescópio espacial James Webb

Imagem vem sendo encarada pelos responsáveis da missão espacial como um documento que tem potencial para transformar, de forma definitiva, a maneira de estudar e entender a história do universo

Por Caio Possati
Atualização:

A primeira imagem divulgada pela Nasa (Agência Aeroespacial dos Estados Unidos) do Telescópio Espacial James Webb, nesta segunda-feira, 11, revelou a possibilidade da existência de uma quantidade “ilimitada” de galáxias no universo, e a presença de bilhões de estrelas e sistemas solares no espaço. Trata-se de um registro inédito, o mais profundo e bem definido retrato do cosmos já observado até hoje.

Tratada como histórica pelos presentes, a fotografia foi exibida durante um evento na Casa Branca, com a presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e da vice-presidente, Kamala Harris. O administrador da agência espacial Bill Nelson ficou encarregado de explicar a imagem captada pelo mais potente telescópio espacial já construído. 

Primeira imagem captada pelo telescópio James Webb foi divulgado nesta segunda-feira, 11, pelo governo americano Foto: Nasa

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A imagem é "uma pequena porção do universo", disse o administrador da Nasa. "São galáxias que brilham ao redor de outras galáxias". Para dar dimensão da imensidão do espaço, ele comparou o cenário revelado pelo telescópio como um "grão de areia na ponta de um dedo com o braço esticado". Bill Nelson reforçou ainda que o documento é um registro do passado, que fez os humanos voltarem a mais de 13 bilhões de anos — o Big Bang ocorreu a 13.8 bilhões de anos. "Estamos quase chegando perto do começo". Como a luz precisa viajar por bilhões de anos pelo espaço para chegar à Terra, a imagem captada de uma luz de bilhões de anos atrás é um retrato do passado.

Os aglomerados espaciais fotografados são chamados de SMAC S 0723, e são capazes de amplificar a luz de galáxias passadas. É um dos locais mais estudados pelo telescópio Hubble, que apesar de ainda estar funcionando, será substituído pelo Webb.  

“Anos atrás achávamos que existia uma única galáxia. Agora, o número é ilimitado. São bilhões de galáxias, com bilhões de estrelas e bilhões de sóis, explicou Nelson. “Aimagem nos permite elaborar questões que, até então, nem imaginávamos”, disse.

A expectativa para a divulgação da imagem era grande. Informações prévias indicavam que o telescópio, enviado ao espaço para investigar o universo, tinha conseguido fotografar o ponto mais distante e mais antigo já visto até hoje do espaço, fato que foi comprovado nesta segunda-feira. 

Joe Biden participou do anúncio da primeira imagem capturada pelo telescópio espacial James Webb. Foto: Bill Insgalls/Nasa/AFP

O presidente Joe Biden demonstrou orgulho pelas recentes descobertas e afirmou que as imagens mostram que os Estados Unidos podem  fazer "grandes coisas". A vice-presidente Kamala Harris descreveu a segunda-feira como “um dia histórico”.

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A imagem revela que os objetivos da Nasa têm sido alcançados. A missão da agência espacial, com o lançamento do telescópio, é a de fotografar as luzes oriundas da explosão que deu origem a tudo e,  assim, captar a formação das primeiras estrelas e galáxias. “Uma viagem ao começo do universo”, como definiu o Bill Nelson, no dia do lançamento. A foto vem sendo encarada pelos responsáveis da missão espacial como revolucionária; um documento que tem potencial para transformar, de forma definitiva, a maneira de estudar e entender a história do universo. ''Não é uma imagem. É uma nova visão de mundo'', disse Thomas Zurbuchen, chefe da missão científica da NASA em uma recente entrevista coletiva.

Nasa revela as primeiras imagens captadas pelotelescópio especial James Webb, em órbita há pouco mais de seis meses. Foto: (NASA/AFP/Chris Gunn)

As descobertas do telescópio Webb, de acordo comZurbuchen, têm o impacto de reaver informações sobre o cosmos que ficaram sedimentadas “por muitas décadas, séculos e milênios”. Não à toa, ele admitiu à imprensa que, ao ver as imagens captadas, ficou emocionado, assim como os seus colegas. "É realmente difícil não olhar para o universo sob uma nova luz e não ter apenas um momento profundamente pessoal.”

Na terça-feira, mais quatro imagens serão reveladas. Nelas, as pessoas poderão visualizar um planeta gasoso, gigante, fora do nosso sistema solar, além de duas imagens de uma nebulosa onde as estrelas nascem e morrem, e uma imagem mais atualizada de cinco galáxias fortemente agrupadas. 

Telescópio Espacial James Webb

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Considerado o sucessor do histórico e revolucionário telescópio Hubble, o Telescópio Espacial Webb foi lançado pela Nasa em dezembro de 2021, partindo da Guiana Francesa, país que faz fronteira com o Brasil. O observatório foi projetado na década de 90, com previsão de lançamento em 2007. Mas a sua ida à órbita aconteceu somente no final do ano passado. Em janeiro, o aparelho atingiu o seu ponto de observação a 1,6 milhão de quilômetros da Terra. Uma espécie de guarda-sol, do tamanho de uma quadra de tênis, tem sido usado para proteger o telescópio e mantê-lo em temperaturas adequadas para o seu funcionamento, uma vez que o telescópio orbita o Sol.

O James Webb foi projetado para substituir o Hubble, que ainda está em funcionamento desde quando foi lançado, em 1990. O novo observatório não estuda a parte visível do espectro eletromagnético como o telescópio mais antigo. O JW captará a radiação em infravermelho, única forma de identificar os pontos mais distantes do universo e, consequentemente, a história.

Isso porque, como a velocidade da luz no vácuo é de aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo, ela precisa viajar durante bilhões de anos pelo espaço para chegar à Terra (ou, mais precisamente, até as lentes do telescópio que focá-la).

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Isso significa que a imagem captada da estrela de bilhões de anos atrás pelo observatório é considerada um retrato do passado. Por ser capaz de captar as luzes que ainda estão relativamente próximas do Big Bang e fornecer, para o presente, informações passadas de como as galáxias surgiram e como o próprio universo evoluiu, o James Webb tem sido visto como uma espécie de máquina do tempo.

A operação em infravermelho se dá porque, quanto mais distantes estão determinados objetos no espaço, suas luzes se tornam cada vez mais tênues e vermelhas, até que alcançam a parte infravermelha do espectro. Por isso, para estudar o primeiro capítulo da história do universo, é necessário um telescópio capaz de enxergar nessa frequência.

O modo de operação também se mostra importante importante para analisar substâncias químicas nas atmosferas de um planeta, como o metano, um indicador de que é possível existir alguma forma de vida para além da Terra. /COM AGÊNCIAS. COLABOROU ROBERTA JANSEN

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