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Trechos da Amazônia produzem mais carbono do que absorvem, diz estudo

Publicada na Science, pesquisa mostra que a floresta tem comportamentos complexos. Região estudada produziu mais CO2 em época em que deveria absorvê-lo mais

Por Agencia Estado
Atualização:

A idéia de que a Amazônia funciona como um sumidouro de carbono, absorvendo parte do excesso de CO2 lançado na atmosfera pelo Homem, não é verdadeira para toda a floresta. Segundo estudo publicado nesta sexta-feira por pesquisadores brasileiros e americanos na revista Science, perturbações climáticas e da cobertura vegetal podem alterar o modelo tradicional de emissão e absorção de gás carbônico pelo ecossistema. Normalmente, as árvores absorvem mais CO2 na época de chuva, para realizar fotossíntese e crescer, e depois perdem na época de seca, quando a fotossíntese é reduzida. Nas proximidades de Santarém (PA), onde o estudo foi realizado, no entanto, ocorreu o inverso: a floresta emitiu mais gás carbônico na chuva do que na seca. A inversão pode estar associada a perturbações naturais ocorridas ao longo das últimas décadas, como o fenômeno El Niño, que reduz os índices pluviométricos na Amazônia. Umidade e decomposição Os resultados são baseados em dados coletados ao longo de três anos com equipamentos em duas torres de monitoramento (foto) ao sul de Santarém, na Floresta Nacional do Tapajós, onde a estação seca é naturalmente mais longa. Isso aumentou a mortalidade de árvores e produziu um acúmulo de necromassa ? folhas, galhos e troncos ?, que libera CO2 à medida que é decomposta. Como a decomposição é favorecida pela maior umidade na temporada de chuvas, a emissão de carbono acabou sendo, na região estudada, maior nesta época do ano. Segundo Humberto da Rocha, um dos autores do estudo, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, na contabilidade final foi registrada uma emissão média anual de 1,3 tonelada de carbono por hectare na área de estudo. Peculiaridade ?Os resultados mostram uma peculiaridade regional e não podem ser extrapolados para a Amazônia de forma simplista?, adverte o pesquisador. Cada torre tem mais de 60 metros de altura e monitora uma região de até mil hectares. O estudo faz parte do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que tem 15 torres instaladas em pontos variados da floresta. Segundo o pesquisador Antonio Nobre, que não assina o estudo mas é um dos principais cientistas do LBA, a topografia da área do Tapajós representa apenas 2% do relevo da bacia amazônica. ?Talvez o resultado mais importante seja a conclusão de que a Amazônia é muito mais complexa do que a gente imaginava ? muito longe da noção de um monótono e constante tapete verde?, avaliou Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). No total, levantamentos preliminares do LBA para toda a Amazônia indicam um sumidouro de 0,8 tonelada de carbono por hectare/ano, segundo Carlos Nobre, irmão de Antonio e também especialista no tema. Estudos regionais ?O estudo não desmente esses resultados, mas levanta a questão de que se deve olhar para a história de perturbações de um sítio para entender o que os instrumentos estão medindo?, disse Carlos, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). ?Precisamos amostrar mais pontos e fazer estudos regionais para chegar a um balanço?, completa Rocha. O trabalho, publicado na Science, foi coordenado por Scott Saleska, da Universidade Harvard. Pelo Brasil, também assinam Plinio de Camargo, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP; Volker Kirchhoff, do Inpe; Helber de Freitas, do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP; e Hudson Silva, da Universidade de New Hampshire.

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