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Uma luta desigual no faroeste caboclo

Meses antes de viajar para a Amazônia, Euclides da Cunha teve receios de ver novamente o governo usar tropas contra pessoas inocentes

Por Agencia Estado
Atualização:

Meses antes de viajar para a Amazônia, Euclides da Cunha teve receios de ver novamente o governo usar tropas contra pessoas inocentes. O escritor que presenciou o extermínio de brasileiros miseráveis e fanáticos no sertão baiano pelo Exército avaliou como um "erro" a remessa de sucessivos batalhões para o Alto Purus, em manobras preventivas contra possíveis invasões de soldados peruanos. Em artigo publicado no Estado, em 22 de maio de 1904, Euclides afirmou que não eram apenas as finanças que estavam em jogo. "Vai além: prejudica de antemão a campanha provável e torna desde já precária a defesa das circunscrições administrativas criadas pelo Tratado de Petrópolis", avaliou. Ele sabia que o texto causaria polêmica na "corrente geral da opinião revoltadíssima contra esse Peru - tão fraco diante da própria fraqueza." As relações sociais na Amazônia foram comparadas por Euclides ao faroeste americano e às situações que ocorriam nas minas da Califórnia. O escritor relatou, em carta sigilosa enviada ao Barão de Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores, ter visto em trecho da selva ossadas de peruanos supostamente fuzilados por brasileiros. Os corpos não foram enterrados e ficaram expostos até a completa decomposição. O chefe do grupo do Peru que participava do trabalho de demarcação da fronteira não escondeu o ódio ao deixar no local uma inscrição em folha de zinco: "Peruanos fuzilados y quemados por bandoleros brasileiros". A Justiça na região foi descrita por Euclides como "serôndia e nula". "Mas todos esses males (...) provêm, acima de tudo, do fato meramente físico da distância", ponderou. "Desaparecerão, desde que se incorpore a sociedade seqüestrada ao resto do país." Ele ainda deu receitas ao desenvolvimento da área, como o povoamento e a construção de ferrovias. "Aos riscos tortuosos do Purus, Juruá e Javari, há que cortar, transversalmente, com uma linha férrea, de cerca de 726 km", exemplificou. O repórter Leonencio Nossa, da Agência Estado, está acompanhando uma expedição de 105 dias da Funai, ao Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, em busca de índios isolados. Veja o especial Em Busca de Povos Desconhecidos

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