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Uma revolução nas ciências da vida

Foi só depois de Dolly nascer que as perspectivas de pesquisas em clonagem terapêutica foram ampliadas, permitindo a produção de tecidos vivos a partir de uma única célula

Por Agencia Estado
Atualização:

A ovelha Dolly significou uma revolução no campo das ciências da vida. Especialistas brasileiros lembram que a técnica que produziu a ovelha não se resume à possibilidade de produzir clones. Foi só depois de Dolly nascer que as perspectivas de pesquisas em clonagem terapêutica foram ampliadas, permitindo a produção de tecidos vivos a partir de uma única célula. Para a geneticista Lygia Veiga Pereira, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), a ovelha Dolly foi um marco na história da ciência, porque quebrou um paradigma. "Até então se pensava que células já diferenciadas - como as de glândulas mamárias ou pele - pudessem ser revertidas em indiferenciadas, e, a partir daí, se diferenciar de novo em qualquer tecido", explicou. "A Dolly demonstrou que uma célula, já com identidade própria, pode ser revertida e dar origem ao organismo inteiro." Por isso, de acordo com Lygia, a ciência básica por trás da Dolly vai muito além da mera possibilidade de fazer clones. "O processo que gerou essa ovelha abriu caminho para a clonagem terapêutica", disse. "Agora é possível pegar células diferenciadas, revertê-las a células-tronco e produzir qualquer tipo de tecido para fins terapêuticos." Quanto ao envelhecimento precoce de Dolly, a geneticista da USP alertou que é preciso ter cuidado com as conclusões que se podem tirar desse fato. "Em ciência não se chega à conclusão nenhuma analisando apenas um caso", disse Lygia. "Para se concluir qualquer coisa é preciso estudar vários clones, para ver com que freqüência o problema ocorre." A geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto de Biociências da USP, também destaca que a Dolly foi um avanço científico por ampliar as possibilidades de pesquisa na área de clonagem terapêutica. Mas Mayana é enfática sobre a clonagem reprodutiva: "A Dolly também é um balde de água gelada para quem pensa em clonagem humana com fins reprodutivos", referindo-se aos problemas de saúde que a ovelha enfrentou. Segundo Mayana, todos os animais clonados até agora apresentam problemas, o que mostra que a clonagem para fins reprodutivos tem baixa eficiência. "Menos de 1% dos animais clonados nascem e todos os nascidos têm algum problema." Cientistas do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) produziram o primeiro animal clonado brasileiro: a bezerra Vitória nasceu em 17 de março de 2001. Vitória foi clonada a partir de uma célula de embrião e não de uma célula adulta, como foi a ovelha Dolly. Em abril, nascia Marcolino, o bezerro que deveria ser fêmea. O objetivo dos pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP era produzir o primeiro clone a partir de célula adulta de uma vaca. Mas, por causa de uma troca no laboratório, o clone foi feito a partir de célula retirada de um feto macho. Marcolino é o primeiro animal clonado no Brasil a partir de células já diferenciadas. Três meses depois do nascimento de Marcolino, nascia o primeiro animal brasileiro clonado a partir de célula adulta. A bezerra Penta foi produzida por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal. Poucos dias depois de nascer, no entanto, Penta teve pneumonia. Com um mês de vida, a bezerra morreu de infecção generalizada.

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