Vacas transgênicas e clonadas produzem laticínio melhor

É a última novidade no campo das "biofábricas", animais modificados geneticamente para produzir moléculas de interesse humano

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Por Agencia Estado
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Na indústria de laticínios, melhor do que modernizar máquinas e processos, só mesmo melhorar a vaca. Foi o que fizeram pesquisadores da estatal AgResearch, na Nova Zelândia. Em estudo publicado na revista Nature Biotechnology, eles relatam a produção de vacas transgênicas capazes de produzir quantidades elevadas de uma proteína em seu leite. O produto apresenta características melhoradas para a produção de queijo e outros laticínios. É a última novidade no campo das "biofábricas", animais modificados geneticamente para produzir moléculas de interesse humano. As 11 vacas receberam cópias extras de dois genes responsáveis pela produção da caseína, proteína que compõe 80% do leite. Os animais são transgênicos e clonados - exatamente nessa ordem. Os genes adicionais são inseridos em células de pele bovina no laboratório, que depois são usadas em um processo de clonagem por transferência nuclear. O animal clonado já nasce com as alterações genéticas embutidas. Nove das vacas produzem até 20% mais beta-caseína e o dobro da quantidade de capa-caseína, principais formas da proteína. Juntas, elas oferecem uma série de vantagens para a fabricação e o processamento de queijos. "A magnitude das mudanças observadas demonstra o potencial da tecnologia transgênica para manipular a composição do leite em vacas leiteiras", dizem os cientistas. Vários animais transgênicos foram produzidos nos últimos anos para a fabricação de moléculas orgânicas, apesar de nenhuma ter chegado ainda ao mercado. Os exemplos mais recentes incluem vacas com DNA humano que produzem anticorpos no sangue e lagartas cuja seda contém colágeno, uma proteína de múltiplas aplicações terapêuticas. No Brasil, pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia buscam produzir uma vaca transgênica capaz de sintetizar, no leite, um anticorpo humano de propriedades antitumorais. O projeto também utiliza o gene da caseína, só que, em vez de duplicado, ele será substituído pelo gene do anticorpo humano. Em um ano e meio, os pesquisadores já conseguiram isolar o gene e inseri-lo em células da pele de bovinos, ovinos e caprinos. O próximo passo é fazer a transferência nuclear e clonar os animais. Segundo o pesquisador Elibio Rech, hoje, os anticorpos são obtidos de células animais mantidas em cultura. "É um processo muito caro e de altíssima demanda." Se, em vez disso, o anticorpo for sintetizado no leite, isso permitirá sua produção em larga escala, a um custo muito mais baixo. "Estamos testando o gene também em plantas para ver qual organismo oferece o melhor custo-benefício." Um dos símbolos do trabalho é a vaca Vitória, clonada pela equipe da Embrapa em março de 2001. Em outro projeto, iniciado no mês passado, pesquisadores da Embrapa e três universidades paulistas - USP, Unifesp e Unicamp - procuram moléculas de interesse em aranhas da biodiversidade brasileira. A seda das aranhas, notória por sua flexibilidade e resistência, é um dos materiais mais cobiçados pela indústria de novos materiais. A idéia é isolar genes relacionados a essa seda e tentar expressar suas proteínas em outros organismos, vegetais ou animais.

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