Cientista pede demissão de universidade após comentários sexistas

O britânico Tim Hunt, ganhador do Nobel de Medicina em 2001, deixou cargo de professor honorário na University College London

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Por Fabio de Castro
Atualização:
Comentários, considerados sexistas, foram feitos durante a Conferência Mundial de Jornalistas de Ciências, em Seul Foto: Reuters

Atualizada às 21h10

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LONDRES - O cientista britânico Tim Hunt, vencedor de um Prêmio Nobel, pediu demissão de seu cargo de professor honorário em uma das mais importantes universidades do Reino Unido, depois de ter afirmado que mulheres cientistas deveriam trabalhar em laboratórios segregados.

Os comentários, considerados sexistas, foram feitos na terça-feira, dia 9, durante a Conferência Mundial de Jornalistas de Ciências, em Seul, na Coreia do Sul. As declarações tiveram repercussão mundial.

Professor do University College London (UCL), Hunt ganhou o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, em 2001, por seu trabalho sobre a divisão celular. Ele também é membro da Royal Society – a mais antiga sociedade científica do mundo – e recebeu da Rainha Elizabeth II, em 2006, a comenda de Cavaleiro da Coroa Britânica.

“Deixem-me contar para vocês sobre meus problemas com garotas. Três coisas acontecem quando elas estão no laboratório: você se apaixona por elas, elas se apaixonam por você e, quando você as critica, elas choram”, disse ele aos participantes do evento em Seul.

“Tim Hunt pediu demissão hoje de seu cargo como professor honorário na Faculdade de Ciências da Vida da UCL, depois de fazer comentários sobre as mulheres na ciência”, diz nota oficial publicada nesta quinta-feira, 11, pela universidade. A nota também enfatizou que a demissão de Hunt, depois do ocorrido, condiz com os princípios da instituição. “A UCL foi a primeira universidade da Inglaterra a admitir estudantes mulheres em igualdade de condições com os homens. A universidade acredita que esse desfecho é compatível com nosso compromisso com a igualdade de gêneros.”

De acordo com a BBC, Hunt disse estar arrependido de ter feito as declarações, mas confirmou que não houve mal-entendido: ele disse o que realmente queria ter dito. “Eu já me apaixonei por colegas de laboratório, algumas já se apaixonaram por mim, e isso acaba atrapalhando o trabalho de pesquisa científica, pois é muito importante que todos estejam no mesmo nível”, afirmou. Ele também disse que “esse tipo de ligação amorosa tornou sua vida bem difícil”. Hunt acrescentou que os comentários foram feitos de modo “irônico e bem-humorado”, mas que acabaram sendo “interpretados como se tivessem sido feitos com grande seriedade”.

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“Foi algo tolo de se fazer na presença de todos aqueles jornalistas”, afirmou Hunt. Ele lamentou que seus comentários possam ter ofendido alguém. “Isso é algo horrível.”

Gênero. Logo após as declarações de Hunt, a Royal Society divulgou comunicado informando que não compartilha seu ponto de vista: “Muitos indivíduos talentosos não atingem seu potencial científico por questões como gênero, e a instituição está comprometida a ajudar a corrigir isso”, diz a nota.

Hunt também foi criticado por membros da comunidade científica, como Anne Glover, ex-assessora científica da presidência da Comissão Europeia. “Espero que essa atitude em relação às mulheres fique confinada à geração passada”, disparou. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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