Xavantes dão prazo a ministro para liberação de terras

Pintados para a guerra, 40 índios disseram a Márcio Thomaz Bastos que haverá conflito se até sexta-feira não houver decisão sobre retirada de posseiros

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um grupo de 40 índios xavantes deu prazo ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, até sexta-feira para que resolva o impasse em torno da terra demarcada em favor da tribo, na região de Alto Boa Vista, em Mato Grosso. Caso contrário, advertem os xavantes, haverá conflito entre os cerca de 600 índios acampados na beira da estrada que cerca a reserva e posseiros. A advertência foi feita na terça-feira ao ministro e também a deputados da Frente Parlamentar de Defesa dos Povos Indígenas, com os quais um grupo de xavantes se encontrou, na sede da Procuradoria Geral da República. Eles querem acesso à terra, já demarcada pela Fundação Nacional do Índio e com posse registrada em favor dos xavantes. Uma liminar do desembargador Fagundes de Deus, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, impede o acesso dos indígenas à área e garante o direito dos posseiros. A demora da Justiça em derrubar a liminar e encontrar uma nova área para os posseiros, considerados inocentes pelos próprios índios, é que incomoda os xavantes. Agentes monitoram Thomaz Bastos garantiu aos xavantes que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva os apoia e disse que a questão deve ser resolvida com a ajuda da Fundação Nacional do Índio (Funai). "Precisamos confiar na Funai para que se tenha a decisão mais harmônica possível para vocês", afirmou. O ministro pediu aos xavantes que aguardem o trâmite da questão na Justiça e disse que solicitará à Polícia Federal que garanta a segurança no local. A PF deixou a área, mas o Ministério da Justiça informou que os agentes monitoram as ações de posseiros e xavantes. Os 40 xavantes que estiveram em Brasília tinham o corpo pintado e usavam gravatas e cintos feitos de corda. A caracterização significa, segundo o cacique Boaventura, a disposição para a guerra. "Não vou matar ninguém porque não sou ladrão, não sou posseiro, mas a terra é nossa. Se alguém me atacar, posso levantar minha arma", disse ao ministro o cacique Damião. A reserva tem 168 mil hectares e fica a cerca de mil quilômetros ao sul de Cuiabá. O processo de demarcação vem desde 1995 e em 2000 os posseiros tomaram conta da área. Patrimônio da humanidade O ministro da Cultura, Gilberto Gil, entregou na terça-feira a representantes da etnia oiampi (wajãpi), do Amapá, o prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que reconhece como patrimônio imaterial da humanidade a arte oiampi denominada kusiwa, de decoração de corpos e objetos por meio de desenhos, entalhes e tecelagem, por exemplo.

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