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Pesquisadores pedem permanência de Jorge Kalil no Instituto Butantan

Em carta enviada aos funcionários ontem, médico diz que Conselho Curador da Fundação Butantan pediu a renúncia de André Franco Montoro Filho por ele ter tomado decisões sem consulta ao colegiado, e tentado se apropriar de atribuições que são do instituto. Montoro Filho pediu demissão, depois acusou Kalil de fazer má gestão e praticar irregularidades dentro do instituto.

Por Herton Escobar
Atualização:

Pesquisadores e funcionários do Instituto Butantan realizaram nesta manhã uma manifestação em defesa do diretor Jorge Kalil, ameaçado de perder o cargo por conta de acusações feitas pelo ex-presidente da Fundação Butantan, André Franco Montoro Filho. O grupo, de aproximadamente 100 pessoas, caminhou por alguns blocos da Avenida Vital Brasil, que dá acesso ao instituto, carregando cartazes com frases do tipo "Butantan em risco" e "Butantan é lugar de ciência não de política". Uma nova manifestação está sendo agendada para as 15h, em frente ao Palácio dos Bandeirantes.

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Montoro Filho deixou a presidência da Fundação Butantan no dia 8, conforme noticiado em primeira mão por este blog. Na sequência, em entrevistas ao jornal Folha de S. Paulo e à rede Globo, ele fez uma série de denúncias contra Kalil, acusando-o de má gestão e irregularidades à frente do instituto, incluindo contratos emergenciais sem licitação e uso de cartão corporativo para gastos pessoais.

Kalil está em viagem na Europa e deve retornar a São Paulo nos próximos dias. Segundo a Folha, o governo do Estado decidiu afastar o médico da direção do instituto.

Manifestação de apoio a Jorge Kalil na Avenida Vital Brasil. Foto: Divulgação

Kalil enviou ontem uma carta a todos os funcionários do Butantan, dando explicações e rebatendo as críticas feitas por Montoro Filho (veja abaixo a íntegra da carta, à qual o blog teve acesso). "Ultimamente, as iniciativas e ações da então diretoria da Fundação estavam se desviando da missão e dos objetivos do Instituto", afirma o médico, citando situações em que Montoro Filho teria agido sem o consentimento do Conselho Curador da fundação. "Diante da conduta e da não observância do regimento da Fundação Butantan, todos os conselheiros, de forma unânime, solicitaram sua renúncia."

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A Fundação Butantan é uma entidade de caráter privado, responsável pela gestão financeira e administrativa do Instituto Butantan, que é uma instituição pública de pesquisa e fabricação de vacinas, atrelada à Secretaria Estadual da Saúde. Cada um tem o seu próprio Conselho, responsável por referendar as decisões dos respectivos diretores-presidentes.

Um grupo de pesquisadores e funcionários também lançou ontem no site Avaaz um abaixo-assinado pedindo a permanência de Kalil à frente do instituto: https://goo.gl/G45gU5

"Muito nos surpreenderam as denúncias do Sr. André Franco Montoro Filho. Se sabia de tantos fatos, por que não denunciou antes, mas somente agora? Por que o Sr. André Franco Montoro Filho não agiu para corrigir os fatos relatados? Por que o Sr. André Franco Montoro Filho não explica à população que era contra a retomada das fábricas de vacinas DTP? Quais foram as ações do Sr. André Franco Montoro Filho com relação à planta de hemoderivados?", diz a petição. "Muitas das crises que ocorreram e ocorrem no Instituto Butantan decorrem de disputas políticas pelo controle da Fundação Butantan, do seu orçamento oriundo da vendas dos imunobiológicos, pelo seu prestígio inconteste e liderança científica e tecnológica no país, para usos em nada comprometidos com a missão do Instituto."

Para o pesquisador Enéas de Carvalho, que participou da confecção do manifesto, o afastamento de Kalil seria "matar a cura em vez da doença". "Como qualquer lugar, o Butantan tem deficiências na gestão, mas o Kalil vem respondendo a todas essas deficiências de forma muito transparente", disse Carvalho ao Estado.

Sergio Verjovski-Almeida, professor titular do Instituto de Química da USP e pesquisador associado ao Instituto Butantan na área de parasitologia, também apoia o conteúdo da carta. "O Kalil não só tomou decisões estratégicas corretas que levaram ao fortalecimento da pesquisa inovadora e ao aumento da produção de vacinas, como também implantou uma gerência administrativa altamente profissional, que passou a fazer um planejamento estratégico dos investimentos e dos gastos do dia a dia, evitando decisões com viés político indesejáveis", declara o cientista, que é bolsista da Fundação Butantan.

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Já o zoólogo Rogério Bertani, pesquisador do Instituto Butantan desde 1994, critica a gestão de Kalil. Segundo ele, os problemas apontados por Montoro Filho já foram discutidos em várias instâncias dentro e fora da instituição. "É de amplo conhecimento que as fábricas de vacinas e soros estão paralisados há mais de 3 anos, e que os prédios vivem sendo eternamente reformados, consumindo uma infinidade de recursos, sem resultados", disse Bertani ao Estado. "É triste ver os mesmos pesquisadores que criticam diáriamente as más condições de trabalho e a paralisação da fabricação dos soros e vacinas subitamente apoiarem a continuidade dessa gestão. O Prof. Montoro tentou moralizar uma série de procedimentos administrativos que já foram identificados como irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado, assim como a contratação de forma irregular de diversos funcionários. Felizmente, boa parte dos pesquisadores e funcionários da instituição entendem que a moralização administrativa de nossa instituição é necessária e que isso só se fará por meio da mudança dos atuais gestores."

Abaixo, a íntegra do comunicado interno enviado ontem por Kalil aos funcionários do Butantan:

(post atualizado às 14h)

 Foto: Estadão
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