Agência fruto da fusão Capes-CNPq pode ser administrada pela Presidência

Proposta de juntar as duas organizações tem como objetivo a economia de recursos, mas ainda não foi formalmente apresentada

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Por Isabela Palhares
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério da Economia estuda submeter diretamente à Presidência a administração da agência fruto da fusão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A proposta de juntar as duas organizações, que são as principais responsáveis pelo desenvolvimento da ciência no País, tem como objetivo a economia de recursos.

A proposta de deixar o órgão unificado sob responsabilidade direta da Presidência começou a ganhar força nas últimas semanas, mas ainda não foi formalmente apresentada a nenhum dos dois ministros que seriam diretamente impactados com a decisão. 

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vem sofrendo sucessivos cortes desde 2016 Foto: Carlos Cruz/CNPq

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O plano de fuso se tornou público no início de outubro, com uma queda debraço entre os Ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O estudo da fusão teve início após um pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, e foi liderado pelo titular da Educação, Abraham Weintraub, que propôs ter a agência unificada administrada por sua pasta.

Questionado pelo Estado sobre os motivos para a fusão das agências e submetê-las à Presidência, o Ministério da Economia disse que não iria comentar. 

Com a nova proposta, os dois ministérios perdem parte considerável de seus orçamentos. A Capes, ligada ao MEC, teve R$ 3,3 bilhões para usar neste ano. Já o CNPq, do MCTIC, R$ 1,2 bilhão. O nome proposto para a agência resultante dessa fusão é Fundação Brasileira para a Ciência.

O argumento para a junção das agências é a economia de recursos. Em uma reunião nesta semana, os defensores da proposta alegaram que a maioria dos países desenvolvidos tem apenas um agência de apoio à pesquisa, com um número muito menor de funcionários do que as duas brasileiras. Um dos exemplos citados foi a China que, no entanto, tem um orçamento muito superior, de € 5 bilhões por ano - o equivalente a R$ 23 bilhões.

A proposta inicial também previa que a fusão das agências fosse feita por Medida Provisória, que tem vigência imediata, mas precisa ser votada pelo Congresso em até 120 dias. O Estado apurou que agora o Ministério da Economia também pode esperar a aprovação da Reforma Administrativa, que pode incluir em seu texto a possibilidade de o presidente da República alterar por decreto a estrutura e até extinguir órgãos e ministérios. 

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Como a ideia já sofre resistência entre os parlamentares, tendo sido inclusive criticada publicamente pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a equipe do MCTIC teme que o governo espere a aprovação da Reforma para concretizar a fusão ou até mesmo ampliá-las a outros órgãos da pasta. 

Resistência

Contrário à proposta desde o início, Pontes disse acreditar que a fusão é "improvável" por não representar uma economia significativa de recurso e prejudicar o trabalho das agências, que têm atribuições diferentes no financiamento da ciência.

"Se a justificativa é de economia de recursos, a gente se compromete a reduzir os gastos em outro local. O que a gente pode é fazer uma economia nas organizações, podemos chegar em uma redução de até 10% e isso já representaria um gasto menor de R$ 400 milhões nas duas", disse Pontes durante participação no 2º Congresso do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino e Pesquisa (Confies).

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Pontes defende que a junção pode prejudicar as diferentes frentes de trabalho desenvolvidas pelas agências. A Capes dá suporte aos cursos de pós-graduação com, por exemplo, o pagamento de bolsas aos estudantes de mestrado e doutorado. Já o CNPq financia diretamente as linhas de pesquisa. As principais entidades científicas do País, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Associação Brasileira de Ciência (ABC), também são contrárias à mudança. 

O economista Claudio de Moura Castro, ex-presidente da Capes, disse considerar que a “confusão criada pela fusão não compensa a economia incipiente” que a mudança pode trazer. “Não vai ser uma catástrofe para a ciência brasileira, mas é uma ideia ruim. É bobagem e inútil mexer em duas agências que funcionam bastante bem”, disse. 

Ele lembrou que o CNPq já chegou a ser subordinado diretamente à Presidência da República, antes da criação do Ministério da Ciência, em 1985. “Não faz sentido um órgão que precisa de um planejamento de longo prazo, com propostas para 15, 20 , 50 anos de desenvolvimento da ciência, ser subordinado à Presidência que tem uma equipe de pessoas pensando em um novo problema por segundo”. 

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Especialista em avaliação do ensino superior, Simon Schwartzman diz que racionar recursos nas duas agências pode trazer maiores resultados financeiros e menor impacto para a ciência. “Se há uma sobreposição entre os trabalhos delas, isso pode ser melhor delimitado. O MCTIC existe por causa da pesquisa. Tirar o CNPq da pasta, a torna injustificável”. 

*A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DO CONSELHO NACIONAL DAS FUNDAÇÕES DE APOIO ÀS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA (CONFIES)