(Texto atualizado às 19h20)
Funcionários da fábrica de vacina contra a gripe do Instituto Butantan fizeram uma paralisação hoje, em apoio ao ex-diretor Jorge Kalil, exonerado pelo governo do Estado após denúncias de irregularidades na sua gestão. Os funcionários -- cerca de 200 pessoas -- deram um abraço simbólico na fábrica e fizeram uma manifestação em frente à Secretaria de Estado da Saúde.
Inicialmente, a paralisação não tinha hora para acabar. "Enquanto for necessário, a fábrica ficará parada", disse um funcionário à reportagem. Imagens das câmeras de segurança mostravam a fábrica vazia durante toda a manhã (veja abaixo). Normalmente, a fábrica funciona 24 horas.
Um pouco antes do almoço, alguns representantes do movimento foram recebidos pelo secretário da Saúde, David Uip. E no início da tarde, os funcionários voltaram ao trabalho.
O grupo pedia a manutenção de Kalil como diretor e "a apuração de todas as irregularidades, se de fato houver alguma", disse o funcionário. Na conversa, segundo o Estado apurou, ficou claro que Uip não voltaria atrás na decisão de exonerar Kalil; e chegou-se a um acordo para retomar o funcionamento da fábrica, de modo a não prejudicar o calendário de vacinação -- o que poderia ser entendido como uma ameaça à saúde pública. O Butantan fabrica quase que 100% das vacinas de influenza usadas no País (mais de 50 milhões de doses), e a produção da fábrica é de 270 mil doses/dia.
Kalil nega qualquer irregularidade e diz ser vítima de inveja e de uma disputa de poder. Pesquisadores do instituto e de outras organizações científicas também protestaram fortemente em seu favor ontem. Internamente, o afastamento de Kalil é visto como uma interferência política na instituição. Até um site foi criado para defender a permanência do médico na direção do instituto, destacando as conquistas de sua gestão.
Apesar de todas as denúncias de má gestão e irregularidades que o governo apontou para justificar seu afastamento, Uip e o governador Geraldo Alckmin elogiaram Kalil publicamente e disseram querer que ele continue à frente do projeto de desenvolvimento da vacina da dengue -- um dos projetos mais importantes da ciência paulista. "É um contrassenso que só serve para atestar a idoneidade do Prof. Kalil", ironizou um pesquisador do instituto.
O imunologista Kalil foi substituído pelo hematologista Dimas Tadeu Covas, cuja nomeação foi publicada hoje no Diário Oficial do Estado.