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Navio de pesquisa da USP se prepara para volta ao mar, após mais de 2 anos parado

Maior embarcação de pesquisa acadêmica do país, o Alpha Crucis está num estaleiro do Ceará passando por reparos. Inspeção de rotina revelou que o casco e o tanque de combustível estavam em condições muito piores do que se imaginava. Diretor do Instituto Oceanográfico da USP diz que está preparando dossiê para pedir providências.

Por Herton Escobar
Atualização:

O Alpha Crucis no Porto de Santos, logo que chegou ao Brasil, em 2012. Foto: Helvio Romero/Estadão

O maior navio de pesquisa oceânica da academia brasileira, o Alpha Crucis, está prestes a voltar para a água, depois de 2,5 anos parado.

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Segundo informações do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), a embarcação deverá voltar ao mar amanhã (terça-feira, 26), no Ceará. O navio está docado há cerca de um ano num estaleiro de Fortaleza, passando por reparos.

Pesquisadores brasileiros aguardam ansiosamente a volta do Alpha Crucis, que não é apenas o maior navio acadêmico de pesquisa, mas também um dos únicos desse tipo no Brasil -- um país com 8,5 mil km de costa. Comprado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o navio chegou ao Brasil em maio de 2012 e começou a trabalhar em outubro do mesmo ano, quando saiu para o seu primeiro cruzeiro de pesquisa.

Tudo funcionou bem até novembro de 2013, quando chegou a hora de o navio passar por uma inspeção de rotina obrigatória. Por se tratar de um patrimônio público, o serviço teve de ser licitado. E assim teve início uma novela de mais de dois anos, que só agora parece estar chegando ao fim.

O Instituto Oceanográfico teve sérias dificuldades para licitar a inspeção do navio, porque todos os estaleiros do Sudeste estavam ocupados à época, com serviços ligados ao pré-sal. Só esse processo demorou um ano. No final, o jeito foi enviar o navio para o estaleiro Indústria Naval do Ceará, em Fortaleza, que acabou vencendo a concorrência pelo serviço, no valor de R$ 2,6 milhões.

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Chegando lá, mais problemas: As condições estruturais do navio eram bem piores do que se imaginava, e a revisão que deveria ser fácil e durar quatro meses acabou virando uma dor de cabeça de 17 meses. No final das contas, o serviço de inspeção e reforma do navio no Ceará custou R$ 3,2 milhões (R$ 600 mil a mais do que o valor originalmente contratado, mas ainda dentro do limite de gasto previsto na licitação).

Navio Alpha Crucis, atracado no Porto de Santos, em julho de 2014. Navio tem 64 metros. Crédito: Marcio Fernandes/Estadão  Foto: Estadão

Problemas inesperados

Segundo o diretor do Instituto Oceanográfico da USP, Frederico Brandini, foram encontrados vários problemas nas estruturas internas do casco e do tanque de combustível, que não eram perceptíveis externamente, mas deveriam ter sido detectados pelas empresas de consultoria e certificação contratadas pela Fapesp durante a aquisição do navio.

"Estou preparando um dossiê, relatando tudo isso para a Fapesp, para que ela tome as providências que achar cabíveis", disse Brandini ao Estado.

A Fapesp e a USP pagaram US$ 11 milhões pela embarcação, que era da agência de pesquisas oceânicas e atmosféricas dos Estados Unidos, a NOAA; e antes disso, da Universidade do Havaí. O navio é antigo, construído em 1973, mas foi "totalmente" (ou quase) renovado após a compra. A embarcação mesmo custou US$ 4 milhões; os outros US$ 7 milhões foram o custo da reforma.

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Ciência a ver navios ...

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Tudo isso causou um imenso atraso à oceanografia brasileira, já que, sem navios, a capacidade de fazer pesquisa no mar fica extremamente limitada.

O navio Prof. W. Besnard, antecessor do Alpha Crucis, está aposentado desde 2008, por causa de um incêndio, e deve ser afundado em breve para virar recife artificial (Veja a reportagem: Navio histórico da USP deve virar naufrágio em Ilhabela). O Cruzeiro do Sul, um navio de pesquisa operado pela Marinha, está disponível apenas 80 dias por ano para uso acadêmico, e no ano passado não realizou expedições por causa de limitações orçamentárias. E o grande Vital de Oliveira, comprado em parceria pelo governo federal, Vale e Petrobras, chegou ao País em julho do ano passado, e ainda não foram abertos editais para sua utilização em pesquisa acadêmica.

"Toda nossa infraestrutura de pesquisa oceânica está comprometida pelos contingenciamentos", disse ao Estado o pesquisador Rodrigo Leão Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que foi um dos cientistas prejudicados pelo cancelamento de saídas do Cruzeiro do Sul em 2015. Ele tinha um projeto aprovado no edital do navio, para investigar recifes de águas profundas recém-descobertos na foz do Amazonas, mas a expedição não aconteceu. "Só quem tem capacidade operacional hoje são as empresas", diz.

Com o retorno do Alpha Crucis, a USP espera tirar esse atraso das pesquisas, ao menos parcialmente. O navio ainda precisará passar por alguns testes antes de pegar o caminho de casa. A viagem de volta ao Porto de Santos deverá levar cerca de dez dias.

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O Estado acompanhou uma das primeiras expedições do Alpha Crucis, em 2013. Leia a reportagem completa aqui: No mar, em busca de água

 Foto: Estadão
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